Resenha Crítica
por Nicholas Merlone
sp. outubro / 2020
"O livro *A Literatura Nazista na América* do escritor chileno Roberto Bolaño foi publicado originalmente em 1996. De forma profética, o autor inventa personalidades latinas que seriam declaradamente fascistas e signatários de ideais nazistas, criando um romance em forma de enciclopédia de biografias imaginárias. No Brasil, o livro foi lançado em 2019 pela Companhia das Letras com tradução de Rosa Freire d'Aguiar." E prossegue: "A obra continua atual e oportuna para discutir a atual ascensão da extrema direita e a posição da América Latina no contexto político-eleitoral do momento. Segundo o autor Bolaño, 'A América Latina foi o manicômio da Europa'."(abertura por Sabina Anzuategui)
O próprio autor reflete que sua obra fala:"de la miseria y de la soberanía de la práctica literaria", sendo descrita como: "una antología vagamente enciclopédica de la literatura filonazi producida en América desde 1930 a 2010, un contexto cultural que, a diferencia de Europa, no tiene conciencia de lo que es y donde se cae con frecuencia en la desmesura". Roberto Bolaño.
Roberto Bolaño (1953 - 2003), autor, poeta, escritor, ensaísta, chileno, sofreu bullying na escola. Parte a isso, julgava-se ansioso, devorador de livros, magro, e sem perspectivas. Mais velho, muda-se com a família para o México, onde passa a se dedicar à Literatura, com pequenos trabalhos literários para revistas da área.
Em meio a turbulência política dos anos 1970, durante a Ditadura de Pinochet, Bolaño, assim como outros jovens, se posicionou contra o regime, e foi às ruas protestar, acabando preso e acusado de terrorismo. Foi solto 8 dias depois, por artifícios de seus colegas, que o livraram da prisão. Depois disso, se tornou um andarilho pela América Latina e Europa. Lavou pratos de restaurantes, varreu ruas, e ainda foi guarda noturno.
Roberto dedicava-se aos ideais esquerdistas e, simultaneamente, iniciava uma carreira literária. Tornou-se um poeta boêmio, influenciado pelos ideais da esquerda e, com isso temido pelas editoras. Para ele, a vida não se separa da literatura. Em sua obra, há violência e as sombras do autoritarismo. Vale mencionar que, antes de "A Literatura Nazista da América", o autor dedicou-se aos versos, como forma de protesto, de modo a criar um movimento poético, chamado: Infrarrealismo (de viés anarquista, caótico).
Finalmente, quanto à obra em pauta, remeto ao início da reflexão, onde Sabina, com propriedade e clareza, destaca a relevância e atualidade do livro. Assim, temos um texto literário engajado com a realidade política. Em tempos atuais de polarização, de divisão... não deixa de se extrair de seu bojo um lembrete dedutível, para a busca da tolerância e compreensão humanas e políticas (e mais, um olhar interior/exterior com empatia), mas, mais que isso, um olhar também para as atrocidades cometidas pela extrema-direita. Não posso encerrar, no entanto, sem antes lembrar também, de que ditaduras de extrema-esquerda são igualmente nocivas à vida saudável em sociedade, causando os mesmos danos irreparáveis das outras ditaduras. É preciso, pois, sabedoria para seguir pelas trilhas certas! Em direção a horizontes razoáveis! Vamos juntos!?
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