quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Papo de Botequim | Clarice Lispector & Machado de Assis e EU!

Por Nicholas Merlone

"Não te escrevi sobre o teu livro de contos (Laços de Família) por
puro encabulamento de te dizer o que penso dele. Aqui vai: é a mais
importante coleção de histórias publicadas neste país na era pós-
machadiana.

Érico Veríssimo, escritor e amigo de Clarice.


Professor é o pai intelectual do... Machado de Assis

Man, Brazil, Brazilian, Writer

E aí, leitora(o)! Já vamos beber e literaturar?! Um convite indiscreto?!  

Antes de iniciar nossa aventura etílica e épica e elucidativa, porém, convido a nos aquecermos! Veja! "Clarice Lispector quis transformar nossa forma de ver o mundo" . Veja ainda! Clarice Lispector - A Paixão Segundo G.H. e Uma Resenha Crítica de Um Leitor Crítico. Ou ainda: RESENHA | MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS - MACHADO DE ASSIS. Aperitivos preliminares!

 Clarice Lispector, Woman, Writer

Machado De Assis, Writer, Classic Man

 

Papo de Botequim

Este nosso papo de botequim se inicia, entre nós três amigos, Clarice Lispector e Machado de Assis e EU. Além de regado a biritas, piteis e palavras ao vento, tem ainda fumaças que perseguem a rota do fumo, até Pasárgada... Ou Tabacaria, talvez?! 

- Poxa! Podíamos tê-los convidados! - lamento EU.

- Está bem! Tudo bem! Da próxima convidamos Bandeira e F. Pessoa!, ameniza Clarice. 

- Tem razão! Oportunidades não vão faltar! - reconsidero.

- Enfim!, Saibam, amigos, registro aqui que este nosso encontro religioso (papo de botequim às sextas-feiras), deve ser acompanhado por generoso cardápio literário. - sugere Machado.

- Pois bem! Entre um questionamento presente e imprescindível da produção literária de Clarice, em aliança às obras de Machado - proponho.

Clarice e Machado brindam e concordam!

E, entre goles e baforadas, prossigo e avanço! Inicio meu discurso em homenagem aos amigos!

- De antemão, já adianto! O aspecto inovador da prosa e a profundidade dos temas psicológicos e sociais abordados por você, Clarice, assim como, por você também, Machado, produziu estranhamento em seus tempos - digo.

E sigo em frente:

- Os dois referendam em seus textos a Bíblia, utilizam citações, recorrem a ditos populares, refletem sobre a escrita (metalinguagem). E não param aí!

Caminho brevemente por entre labirintos da mente e retorno em minhas observações!

- Nas obras dos dois, tanto um quanto outro, confeccionam a linguagem "com radicalidade e parcimônia ao mesmo tempo". "Em suas obras não há a abundância de adjetivos, mas uma riqueza nas metáforas e comparações inusitadas [...]", o que nos leva a "vislumbrar o novo, o imperceptível a 'olho nu'".

- É fato! Seus trabalhos sinalizam "fortes evidências da modernidade no romance brasileiro". E sigo:

- Seus romances sedimentam-se "na desconfiança das aparências do real e das estruturas previamente modeladas". Isto porque "uma vez que forma e conteúdo constituem obras singulares tanto na teoria que perseguem quanto na prática que desenvolvem".

- Não fiquem convencidos agora! - Os dois! - Vejam bem! - Os dois são verdadeiros gênios criativos!

- Que isso?! - bradam em voz alta, Clarice e Machado, juntos. - Somos normais!, dizem uníssono.

- Vou fingir que acredito! - e sorrio de lado. E sigo:

- Outro ponto interessante de se notar é o ambiente o espaço físico. Clarice e Machado e suas estórias se passam no Rio de Janeiro. Cidade turística, histórica, cartão de postal de Pindorama.

- Voltando!, digo: Tanto Clarice quanto Machado, os dois exploram com densidade e profundidade aspectos internos da alma e psicológicos do ser humano, além da própria condição existencial humana. Também olham para o exterior no horizonte que se descortina e observam e constatam e analisam e escrevem!, com apurada crítica à sociedade e aos costumes. 

- Vocês dois evidenciam "uma existência que pode e deve ser direcionada por protagonistas que ousarem escrever sem script.", friso. Como exemplos: G.H e Macabéa, além de Brás Cubas e Bentinho.

- "Todos que se decidiram na direção contrária à maré sabem das dificuldades e desafios; em alguns raros momentos vencem, em outros, sucumbem. Com a força da maré não se brinca, pois nesse rio muitas são as vertentes que nele desembocam", reflite-se. E parte:

- "A Igreja fortalece o status quo tanto quanto a hierarquia político-social, tanto quanto as vertentes reforçam o fluxo do rio. É por essas e outras que a abordagem da essência humana urge ser desvelada em minúcias para que se possa enxergar uma brecha e proceder com o desvio do rio", pondero. E caminho:

- "Clarice e Machado, por caminhos diversos, mas com concepções de mundo sintonizadas com a problematização do verossímil, bem como da verdade única e inexorável, buscaram, desvelando ambiguidades e, muitas vezes, a realidade do improvável [...]".

- Vocês dois sabem que a literatura não salva o mundo, mas não deixam de acreditar que podem transformar as dúvidas sobre a verdade, a realidade e o mundo.

- Você, Machado, no seu conto A Igreja do Diabo, deixa claro "o quanto dogmas podem servir para o bem e para o mal, sem exclusividade de um e de outro". E também pela perspectiva mítica, quanto à história e o tempo, buscando o novo pela exploração e invenção da linguagem.

- Você, Clarice, por sua vez, em A paixão segundo G.H., se desloca pelo tempo mítico, é incontestável.

- Fato É! Os dois desvendaram a prerrogativa mítica perseguida por vocês muito de perto, por suas temáticas e personagens notamos que elegem  "a estratégia do mito".

-  Os dois trabalham a linguagem não só como objeto de amor e dedicação, como também ao provocar liberdades de pensamentos, desautomatização frente à realidade.

Finalmente, encerra-se: "O diálogo de Clarice com Machado e vice-versa une existências que honram e dignificam não só a nossa miserável, porém instigante e desafiadora, raça humana, mas a arte literária universal".

 P.S.: Quem Sou EU!? Quem sou eu que bebo com Clarice e Machado assim tão de boa...! Bartolomeu, João Bartolomeu, advogado criminalista, muito prazer! Sou católico e espírita e às vezes budista! Normalmente, psicografo mensagens de outros planos. Neste caso, recebi na portaria de meu E-mail, a obra abaixo - sem remetente -, que o título me chamou a atenção - e, com a devida vênia, tomei a liberdade de explorá-la e conferir-lhe uma bacalhoada literária de final de feira!

Fonte de Inspiração:

SIMON, Catia Castilho. Nos labirintos da realidade : um diálogo de Clarice Lispector com Machado de Assis. Tese de Doutoramento em Letras - UFRGS. 2009.
 
Convite!
 
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