Isto porque, segundo ela, a leitura de obras de ficção traz novos olhares, um melhor repertório de vida. Para ela, a ficção é maravilhosa para todos.
Reportagem por Nicholas Maciel Merlone
O mencionado evento ocorreu no tradicional e inovador Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP), em 06 de agosto de 2024. Foi organizado pela Comissão de Direito e Literatura, gerida pelo presidente, Ricardo Peake Braga, que afirma que a Comissão é um suspiro, um oásis, e pela vice-presidente, Marina Bevilacqua de La Touloubre, que esclarece que a literatura é pacificadora e minimizadora de conflitos, além do secretário-geral, Maurício Felberg, que ressalta as obras de Piero Calamandrei. A palestrante, por sua vez, que nos brindou com relevantes e ricos conhecimentos sobre o tema, é a advogada Cibelle Linero.
Pois bem! Inicialmente, a palestrante procura trazer experiências sobre clubes de leitura, destacando que precisamos da literatura para viver. Explica que, geralmente, na faculdade lêem-se livros jurídicos. Ademais, no cotidiano, além do Direito, há a família, filhos e outras atividades que ocupam o tempo, o que, em tese, tomaria tempo para a leitura de obras literárias.
Linero, assim, explica que é possível haver um clube de leitura no escritório de advocacia, uma vez por mês, com a participação de todos: os advogados, estagiários, motoboys etc, por exemplo, no contexto de um café da manhã. Aqui, acrescento a possibilidade de não só em firmas de advocacia, mas também em escritórios de contabilidade, empresas, ONGs e no setor público.
Imagem: Pixabay. |
Quanto ao formato, sugere que pode ser por meio de um grupo virtual (on line). Ou ainda, com reuniões híbridas. Em seu escritório, onde é sócia, o BMA há, por exemplo, o foco na diversidade, em que, neste tema, há um clube de leitura.
A seguir, destaca que, hoje em dia, é preciso estimular os jovens a adquirirem o hábito da leitura, de modo a atraí-los para clubes de leituras, e ainda que também criem clubes de leituras.
Jovens leitores. Foto: Pixabay. |
Cibelle, então, ressalta que os clubes podem ocorrer em empresas, casas, enfim, qualquer lugar, não precisando de um formato certo. Enfim, pode existir em qualquer espaço, até mesmo em penitenciárias, como medida de remissão de penas.
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Com isso, pergunta se os advogados devem ler ficção. E responde de bate pronto: Sim!!!
Isto porque, segundo ela, a leitura de obras de ficção traz novos olhares, um melhor repertório de vida. Para ela, a ficção é maravilhosa para todos.
Esclarece que quando se reúnem as pessoas, com um mediador, este não necessariamente precisa ser um professor.
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O interessante é que cada participante terá um ponto de vista, uma opinião. Não deve haver unanimidade nos clubes, ou ainda, não deve haver julgamento e deve haver respeito à opinião do outro. Outro ponto de interesse é a realização de referências cruzadas.
Sob outro olhar, pode-se afirmar, conforme a palestrante, que os clubes de leitura são grandes terapias em grupo. Daí a importância de ouvir o outro, com o que se aprende muito, ouvindo a opinião alheia, o que aumenta o espírito crítico, além de aumentar a empatia, conhecendo o personagem e se apaixonado por ele.
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Neste momento, a palestrante cimenta uma regra de ouro. Apesar de o Direito ser político, não pode haver política partidária nos clubes de leitura. Isto deve ser vedado, já que desgasta as relações.
Outrossim, a expositora pondera a importância de ter a disciplina da leitura. Clubes induzem a uma disciplina, para incorporar a literatura na vida. Aqui, afirmo, quanto à disciplina, a necessidade de firmar um horário específico por dia, para se dedicar a leitura, bem como as horas dedicadas à prática, além da quantidade de páginas, que se pretende ler por dia, estabelecendo metas e objetivos plausíveis de leituras.
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No que se refere à temática, há, na realidade, várias formas, como assuntos ligados às mulheres, contos e crônicas (livros menores), diversidade e inclusão, clássicos, sobre a própria escrita, enfim, há realmente várias possibilidades.
Uma forma interessante de escolher a obra, seria por meio de uma enquete no WhatsApp. Uma outra sugestão da advogada seria trazer convidados especialistas em autores, para discorrerem sobre suas obras, como tradutores, escritores etc.
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Fundamentalmente, elucida que qualquer um pode criar um clube de leitura. Ademais, o mentor pode ser qualquer pessoa. Para tanto, é preciso estimular as opiniões dos integrantes, com respeito, acolhimento, sem julgamento.
É interessante, por exemplo, que os encontros sejam mensais e, além disso, há sempre uma experiência nova. Há pessoas que participam há 10 anos e outras pessoas novas, que começam a participar das atividades.
Um ponto essencial é que ninguém é obrigado a ler. Por outro lado, a expositora conclui: a comunidade é feita de pessoas, é bom conhecer pessoas e a literatura é um caminho para isso, é preciso, por fim, estimular os jovens a ler.
Foto: Pixabay. |
Depois do término da exposição, o presidente da Comissão afirma que cabem livros jurídicos clássicos em clubes de leitura, para “abrir a cabeça”. Além disso, que no Direito há uma tradição enorme de poetas juristas e dá um furo, apontando que, na próxima revista do IASP, terá um artigo sobre “Os poetas legisladores”. Realmente, para Ricardo, destaca-se a sensibilidade dos poetas.
Maurício, por seu turno, afirma que ninguém lê Pontes de Miranda de uma hora para outra, mas Calamandrei, sim!!! E na ocasião, eu aproveitei para acrescentar a obra: As Boas Relações entre Juízes e Advogados.
Na ocasião, discutiu-se também a grande relevância da leitura de ficção, no contexto da ética e da literatura, citando-se, assim, a obra A Morte de Ivan Ilitch, de Liev Tolstói.
Liev Tolstói. Foto: Wikipédia. |
Enquanto isso, Marina traz algumas ponderações. De início, dá um spoiler que, no próximo encontro, será abordada por ela a obra de Jane Austen, Orgulho e Preconceito, sob o olhar do direito de família e propriedade. Sobre o clube de leitura, afirma que é algo acolhedor, não precisa de ser uma obra clássica. Destaca a importância da abertura, do acolhimento, do compartilhamento das diferenças de percepções.
Neste ponto, frisa o direito à literatura como direito fundamental, segundo Antonio Candido. Daí a relevância do acesso à literatura, que possibilita o mergulho no autoconhecimento.
Antonio Candido. Foto: Wikipédia. |
No evento, também se debateu sobre a literatura como fonte de poder, como um veículo para se compreender as relações, de modo que o poder intelectual deve buscar o equilíbrio.
Imagem: Pixabay. |
Finalmente, Cibelle encerra, lecionando que os clubes podem ser temáticos, jurídicos ou não, por exemplo, de ficção, enfim, cada clube tem o seu DNA.
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