terça-feira, 4 de junho de 2024

Fabrício Corsaletti | Perambule - Baldinho

 Por Fabrício Corsaletti in Perambule

Baldinho

"Não usava bolsa nem mochila, mas um balde de ferro pequeno, desses de deixar sobre a mesa com gelos e cervejas. Levava-o pra todas a parte. E dele tirava, quando necessário: carteira, óculos escuros, analgésicos, livros, CDs, chave, smartphone, cartões com dicas de restaurantes, maçã, baralho, guarda-chuva, moletom. Pelas costas, começaram a chamá-lo de baldinho. 

Quando, numa sexta-feira, soube do apelido, se sentiu esquisito e passou o fim de semana como que de luto. Na segunda-feira doou o balde pro porteiro do prédio onde vivia com a mãe e comprou numa loja do centro uma mochila preta, a mais discreta e comum. Fez questão de rever os amigos e os colegas de trabalho. Queria marcar o fim de uma era de inquietação e liberdade traduzidas em extravagância, e o início de uma vida sem confrontos com a moral e os costumes de seu tempo. Mas continuaram a chamá-lo de Baldinho." (Baldinho in: Fabrício Corsaletti, Perambule. São Paulo: editora 34, 2018. p. 85)

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