Por Nicholas Merlone
"Não te escrevi sobre o teu livro de contos (Laços de Família) por
puro encabulamento de te dizer o que penso dele. Aqui vai: é a mais
importante coleção de histórias publicadas neste país na era pós-
machadiana.
Érico Veríssimo, escritor e amigo de Clarice.
E aí, leitora(o)! Já vamos beber e literaturar?! Um convite indiscreto?!
Antes de iniciar nossa aventura etílica e épica e elucidativa, porém, convido a nos aquecermos! Veja! "Clarice Lispector quis transformar nossa forma de ver o mundo" . Veja ainda! Clarice Lispector - A Paixão Segundo G.H. e Uma Resenha Crítica de Um Leitor Crítico. Ou ainda: RESENHA | MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS - MACHADO DE ASSIS. Aperitivos preliminares!
Papo de Botequim
Este nosso papo de botequim se inicia, entre nós três amigos, Clarice Lispector e Machado de Assis e EU. Além de regado a biritas, piteis e palavras ao vento, tem ainda fumaças que perseguem a rota do fumo, até Pasárgada... Ou Tabacaria, talvez?!
- Poxa! Podíamos tê-los convidados! - lamento EU.
- Está bem! Tudo bem! Da próxima convidamos Bandeira e F. Pessoa!, ameniza Clarice.
- Tem razão! Oportunidades não vão faltar! - reconsidero.
- Enfim!, Saibam, amigos, registro aqui que este nosso encontro religioso (papo de botequim às sextas-feiras), deve ser acompanhado por generoso cardápio literário. - sugere Machado.
- Pois bem! Entre um questionamento presente e imprescindível da produção literária de Clarice, em aliança às obras de Machado - proponho.
Clarice e Machado brindam e concordam!
E, entre goles e baforadas, prossigo e avanço! Inicio meu discurso em homenagem aos amigos!
- De antemão, já adianto! O aspecto inovador da prosa e a profundidade dos temas psicológicos e sociais abordados por você, Clarice, assim como, por você também, Machado, produziu estranhamento em seus tempos - digo.
E sigo em frente:
- Os dois referendam em seus textos a Bíblia, utilizam citações, recorrem a ditos populares, refletem sobre a escrita (metalinguagem). E não param aí!
Caminho brevemente por entre labirintos da mente e retorno em minhas observações!
- Nas obras dos dois, tanto um quanto outro, confeccionam a linguagem "com radicalidade e parcimônia ao mesmo tempo". "Em suas obras não há a abundância de adjetivos, mas uma riqueza nas metáforas e comparações inusitadas [...]", o que nos leva a "vislumbrar o novo, o imperceptível a 'olho nu'".
- É fato! Seus trabalhos sinalizam "fortes evidências da modernidade no romance brasileiro". E sigo:
- Seus romances sedimentam-se "na desconfiança das aparências do real e das estruturas previamente modeladas". Isto porque "uma vez que forma e conteúdo constituem obras singulares tanto na teoria que perseguem quanto na prática que desenvolvem".
- Não fiquem convencidos agora! - Os dois! - Vejam bem! - Os dois são verdadeiros gênios criativos!
- Que isso?! - bradam em voz alta, Clarice e Machado, juntos. - Somos normais!, dizem uníssono.
- Vou fingir que acredito! - e sorrio de lado. E sigo:
- Outro ponto interessante de se notar é o ambiente o espaço físico. Clarice e Machado e suas estórias se passam no Rio de Janeiro. Cidade turística, histórica, cartão de postal de Pindorama.
- Voltando!, digo: Tanto Clarice quanto Machado, os dois exploram com densidade e profundidade aspectos internos da alma e psicológicos do ser humano, além da própria condição existencial humana. Também olham para o exterior no horizonte que se descortina e observam e constatam e analisam e escrevem!, com apurada crítica à sociedade e aos costumes.
- Vocês dois evidenciam "uma existência que pode e deve ser direcionada por protagonistas que ousarem escrever sem script.", friso. Como exemplos: G.H e Macabéa, além de Brás Cubas e Bentinho.
- "Todos que se decidiram na direção contrária à maré sabem das dificuldades e desafios; em alguns raros momentos vencem, em outros, sucumbem. Com a força da maré não se brinca, pois nesse rio muitas são as vertentes que nele desembocam", reflite-se. E parte:
- "A Igreja fortalece o status quo tanto quanto a hierarquia político-social, tanto quanto as vertentes reforçam o fluxo do rio. É por essas e outras que a abordagem da essência humana urge ser desvelada em minúcias para que se possa enxergar uma brecha e proceder com o desvio do rio", pondero. E caminho:
- "Clarice e Machado, por caminhos diversos, mas com concepções de mundo sintonizadas com a problematização do verossímil, bem como da verdade única e inexorável, buscaram, desvelando ambiguidades e, muitas vezes, a realidade do improvável [...]".
- Vocês dois sabem que a literatura não salva o mundo, mas não deixam de acreditar que podem transformar as dúvidas sobre a verdade, a realidade e o mundo.
- Você, Machado, no seu conto A Igreja do Diabo, deixa claro "o quanto dogmas podem servir para o bem e para o mal, sem exclusividade de um e de outro". E também pela perspectiva mítica, quanto à história e o tempo, buscando o novo pela exploração e invenção da linguagem.
- Você, Clarice, por sua vez, em A paixão segundo G.H., se desloca pelo tempo mítico, é incontestável.
- Fato É! Os dois desvendaram a prerrogativa mítica perseguida por vocês muito de perto, por suas temáticas e personagens notamos que elegem "a estratégia do mito".
- Os dois trabalham a linguagem não só como objeto de amor e dedicação, como também ao provocar liberdades de pensamentos, desautomatização frente à realidade.
Finalmente, encerra-se: "O diálogo de Clarice com Machado e vice-versa une existências que honram e dignificam não só a nossa miserável, porém instigante e desafiadora, raça humana, mas a arte literária universal".
P.S.: Quem Sou EU!? Quem sou eu que bebo com Clarice e Machado assim tão de boa...! Bartolomeu, João Bartolomeu, advogado criminalista, muito prazer! Sou católico e espírita e às vezes budista! Normalmente, psicografo mensagens de outros planos. Neste caso, recebi na portaria de meu E-mail, a obra abaixo - sem remetente -, que o título me chamou a atenção - e, com a devida vênia, tomei a liberdade de explorá-la e conferir-lhe uma bacalhoada literária de final de feira!
Fonte de Inspiração:
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