quinta-feira, 29 de maio de 2025

CADERNOS DO CINEMA | “Guerra Civil”: Wagner Moura brilha em distopia tensa sobre o colapso dos EUA e o papel do jornalismo

Por Nicholas M. Merlone, especial para O DIASP (Confira aqui!)


Em Guerra Civil, novo filme de Alex Garland, o cenário é tão inquietante quanto plausível: os Estados Unidos entraram em colapso. Forças separatistas armadas avançam sobre Washington, enquanto o governo central se isola e a democracia parece um vestígio do passado. É nesse contexto que o cineasta britânico constrói um thriller político que se recusa a oferecer respostas fáceis, mas levanta questões profundas sobre a ética jornalística, a banalização da violência e a falência das instituições.

O filme acompanha um grupo de jornalistas em uma jornada rumo à capital, na tentativa de entrevistar o presidente antes da tomada militar. Entre eles, destaca-se Joel, vivido com vigor por Wagner Moura, que entrega uma das atuações mais potentes de sua carreira internacional. Carismático, intenso e moralmente ambíguo, seu personagem funciona como uma espécie de bússola emocional da trama – ainda que muitas vezes ele mesmo esteja perdido em meio ao caos. Moura domina a tela com sua presença magnética e representa, com nuances, o conflito entre o impulso de documentar e a impotência diante da barbárie.

Ao lado dele está Lee (Kirsten Dunst), uma veterana fotojornalista marcada pela exaustão emocional e um olhar desencantado sobre o mundo. Mas é a jovem Jessie, interpretada por Cailee Spaeny, quem oferece ao espectador o ponto de vista mais impactante. Aspirante a jornalista, inexperiente e cheia de idealismo, ela é o fio condutor da narrativa. Em Jessie, vemos não apenas o choque da juventude diante da brutalidade, mas também o nascimento da consciência profissional e moral de quem escolhe relatar a verdade num mundo onde a verdade se tornou artigo raro.

Spaeny conduz sua personagem com notável sensibilidade, equilibrando fragilidade e determinação. Sua jornada é, no fundo, a do amadurecimento: da hesitação diante do primeiro disparo ao sangue-frio necessário para apertar o botão da câmera no instante certo. Se Dunst representa o fim de um ciclo e Moura, a zona cinzenta da prática jornalística, Spaeny simboliza o que resta de esperança — ou, talvez, o quanto essa esperança será rapidamente esmagada.

A relação entre os três é marcada por tensão geracional, choques éticos e uma silenciosa admiração mútua. Garland, conhecido por seus roteiros cerebrais, evita os clichês do heroísmo fácil e foca nas escolhas difíceis. Há momentos em que a câmera de Moura parece mais uma arma do que uma ferramenta de registro — e é essa ambiguidade que dá profundidade ao roteiro.

Visualmente, Guerra Civil combina o realismo documental com uma estética sombria. A fotografia aposta em luz natural, cores desbotadas e cenas captadas em movimento, evocando o imediatismo das coberturas de guerra e aumentando o senso de urgência. A trilha sonora é discreta, quase ausente, deixando que o som dos tiros e das sirenes fale mais alto que qualquer música.

No fim, Guerra Civil não é apenas um alerta sobre os perigos da polarização política ou um estudo sobre o jornalismo em tempos de colapso. É um filme sobre testemunhar — e sobre o preço de olhar de frente para o que muitos preferem ignorar. Com um elenco afiado e direção firme, Alex Garland entrega um dos filmes mais relevantes do ano, e Wagner Moura consolida seu nome como um dos grandes atores globais da atualidade.

terça-feira, 15 de abril de 2025

Mario Vargas Llosa: O Gigante das Letras que Desvendou o Poder e a Alma da América Latina

Mario Vargas Llosa (1936–2025) foi um dos mais importantes escritores da literatura latino-americana e mundial. Natural de Arequipa, Peru, destacou-se por obras que exploram o poder, a resistência e os conflitos sociais. Entre seus romances mais conhecidos estão A Cidade e os Cachorros (1963), A Casa Verde (1966), Conversas na Catedral (1969) e A Guerra do Fim do Mundo (1981). Em 2010, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura por sua “cartografia das estruturas de poder” e “imagens vigorosas de resistência individual, revolta e derrota”

Wikipédia

Politicamente, Vargas Llosa teve uma trajetória marcante: de jovem marxista simpatizante da Revolução Cubana, tornou-se um defensor do liberalismo democrático. Em 1990, candidatou-se à presidência do Peru, sendo derrotado por Alberto Fujimori. Mesmo após esse revés, manteve-se ativo no debate político, apoiando candidatos e causas liberais

Sua carreira foi reconhecida com diversos prêmios, como o Prêmio Cervantes (1994) e o Prêmio Príncipe das Astúrias de Letras (1986). Foi membro da Real Academia Espanhola desde 1994 e, em 2023, tornou-se o primeiro autor a ingressar na Academia Francesa sem ter escrito em francês.

Vargas Llosa faleceu em Lima, aos 89 anos, após conviver por quase cinco anos com uma doença incurável, mantida em sigilo. Durante esse período, reaproximou-se da família e continuou escrevendo até seus últimos dias. Seu legado permanece como um dos pilares da literatura em língua espanhola.

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terça-feira, 11 de março de 2025

Oscar 2025: Ainda Estou Aqui e Anora

 Por Nicholas Maciel Merlone

Publicado originalmente no Jornal O DIA SP (veja aqui).

Assisti recentemente a dois filmes ganhadores do Oscar deste ano de 2025: Ainda Estou Aqui e Anora. Neste espaço, traço algumas breves observações, impressões e reflexões sobre os dois. Além disso, aproveito para informar que, a partir de agora, nossa coluna terá periodicidade quinzenal.


Ainda Estou Aqui, filme brazuca na veia, dirigido por Walter Salles, com roteiro de Murilo Hauser e Heitor Lorega, é uma adaptação da obra de caráter autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva. O enredo conta a história de sua mãe, Eunice Paiva, no decorrer do regime militar no Brasil. A trama ocorre nos idos de 1970. A narrativa constata de que maneira a vida de uma mulher casada com um eminente político (representado por Selton Mello) se transforma depois da captura dele pelo governo militar. Eunice, representada por Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, se torna uma defensora dos direitos humanos. Luta, assim, pela verdade sobre o desaparecimento do esposo. E ainda se torna uma ativista dos direitos indígenas, tornando-se referência mundial no assunto. O roteiro abrange não só o drama de Eunice, como também o choque do período militar na vida de diversas famílias brasileiras. Ressalta, portanto, a função das mulheres na resistência. O filme também trata de assuntos de perda e coragem. A trama consiste em uma homenagem à luta de Eunice Paiva.


Já o outro filme, escrito e dirigido por Sean Baker, temos a moça Anora (Mikey Madison), uma profissional do sexo das imediações do Brooklyn, nos EUA. Certa noite, Anora crê ter tirado a sorte grande ao conhecer o filho de um oligarca russo, o herdeiro Ivan (Mark Eidelshtein), que se encantou com o fato de a garota falar o seu idioma natal. Os dois se divertem e brincam muito juntos, acabando se casando por impulso em Nevada, no Texas. Logo a novidade se esparrama pela Rússia e logo os pais de Ivan tomam a dianteira, viajando da sua pátria até a América, reprovando por inteiro a união.


O filme brasileiro é muito sensível e profundo e retrata um momento da nossa história, que não pode ser esquecido. A atuação de Fernanda Torres é marcante e emblemática. Por outro lado, Anora é recheada de clichês, que embora arranquem risos, não aborda com profundidade o triste e real mundo das trabalhadoras do sexo. Pelo contrário, torna hilária uma situação séria, desmerecendo o papel das mulheres. Quanto à atuação de Mikey Madison, realmente, foi bem representada. Méritos para a jovem atriz. Porém, de fato, não se compara à envergadura artística de Fernanda Torres, que soube captar as nuances da personagem protagonista e representá-la com densidade e sensibilidade. Embora o nosso filme tenha ganhado o Oscar de melhor filme internacional, creio sinceramente que o Oscar de melhor atriz, com justiça, deveria ter sido entregue a Fernanda Torres. Porém, os dois filmes merecem ser assistidos, com muita pipoca e guaraná!

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

BBC | 'The truth is she did the right thing': The mystery of why Jane Austen's letters were destroyed – by her own sister

"A verdade é que ela fez a coisa certa": O mistério de por que as cartas de Jane Austen foram destruídas - por sua própria irmã.

O artigo da BBC discute o mistério em torno da destruição das cartas de Jane Austen por sua irmã, Cassandra Austen. Após a morte de Jane em 1817, Cassandra decidiu queimar a maioria das cartas da escritora. A decisão gerou especulações sobre os motivos por trás desse ato, que podem incluir a proteção da privacidade de Jane, o desejo de preservar sua imagem pública ou mesmo a preocupação com o conteúdo íntimo das cartas. O artigo também explora como esse ato de destruição afetou a compreensão da vida e obra de Jane Austen, uma vez que suas cartas poderiam ter fornecido uma visão mais aprofundada sobre sua personalidade e o contexto de seus romances. O mistério e a controvérsia continuam a fascinar estudiosos e fãs da autora. (Por Inner AI)

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